sábado, 24 de setembro de 2011

Poesia de Sapo



Os sapos


Enfunanado os papos,
saem da penumbra,
aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
_ "Meu pai foi à guerra!"
_ "Não foi!" _ "Foi!" _"Não foi!"
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguçado,
Diz: _"Meu cancioneiro
É bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Quer arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
Vai por cinqüenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A forma a forma.
Clame a saparia
Em críticas céticas:
"Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas..."
Urra o sapo-boi:
_ "Meu pai foi rei" _"Foi!"
_ "Não foi!" _ "Foi!" _ "Não foi!"
Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
_"A grande arte é como
Lavor de joalheiro.
Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo."
Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe)
Falam pelas tripas:
_ "Sei!" _ "Não sabe!" _ "Sabe!"
Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Verte a sombra imensa;
Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é
Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio...


Manoel Bandeira







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